Viagens e Trilhas de um Poeta

Viagens e Trilhas de um Poeta

sábado, 24 de setembro de 2011

Os filhos são viagem

A viagem não é de avião, nem de carro,nem a cavalo,nem de carro-de-boi; Não é de trem , nem a pé.Os filhos são uma grande viagem , em direção a nossa eternidade, em direção a felicidade, ao enorme sentimento de proteção, em direção a nossa infância esquecida, às profundezas dos sentimentos dos nossos pais, ao imenso e verdadeiro amor. Minhas filhas são dois tesouros, cada uma de um jeito diferente. Traduzi-las? Talvez a poesia diga um pouco:

Poema de Eterno Riso (Brincadeira de Maria Luiza)
Malu Que já nasceu palhacinha _ Um tanto de alegria incontida Chocolate lambuzado na boca. Teimosa, nasceu nas águas de março Fugindo do trigo de abril Um peixe, peixinho, golfinhos Caiu sem querer na piscina. A dona das brincadeiras Quebrou a cadeira, também do cavalo caiu Fugiu pra Sibéria Um caranguejo prendeu Menina sem fome Sem medo de nada Um pesadelo de noite Comeu macarrão, uma eca: salada! Malu, menina peralta Gargalhada engraçada Um choro doído Foi Thor que mordeu. Mas faz um bicho nas nuvens Rodopia na grama, Um balé no espelho: Vaidade infantil Tropeçando nas letras Faz um rio de palavras Um castelo e um príncipe O laboratório de Dexter Maria Luiza Inspiração da mulher Um poema sem rimas Um sapato furado... E um poeta feliz.

Chapada dos Veadeiros Principal


Chapada dos Veadeiros 3.
No meu terceiro dia na Chapada, formou-se um grupo. O Parque estava fechado, então fomos ao Vale da Lua e Cachoeira Raizama. O que poderia dizer a mais? Os caminhos da chapada são longos, sobe-se por terrenos às vezes pedregosos, o joelho às vezes até dói (a solução é um óleo de arnica e copaíba). A conversa e o silêncio vão se alternando , e dessa interação vamos nos reconstruindo, reinventando valores, fortificando nossos princípios mais arraigados, relativizando algumas coisa,perdoando nossos doces pecados, suando bastante, enchendo nossos corpos de água.Todo o misticismo do lugar, se entende ao pisunhar cristais, ao visualizar a amplidão dos chapadões,ao descanso merecido numa sombra de arbusto, ao se deliciar com a rara curriola(fruto exótico do cerrado),ao refrescar-se nas águas correntes , ao despertar das nossas consciências para a existência do outro, para a maravilhosa experiência de tentar ser agradável ao outro, de trocar um pouco das nossas vidas, pois a vida que vivemos é tão curta para esse universo imenso. A chapada é um resumo, é a ilusão para alguns, é talvez apenas um momento como tantos outros, uma página lida e esquecida no meio de tantos livros na estante, mas para mim vos digo: é inesquecível, é desejo de voltar, é vontade de encontrar meus amigos (rios que são)que se fizeram , é decisivamente a certeza que a vida não é sórdida!
E peço permissão (pois já me permiti) para publicar o poema da Elsa para enriquecer a postagem:


O que é a vida para mim?
Vida é seiva de árvore, é cantar de passarinho
Vida é calor da Chapada, é água da cachoeira nos refrescando e embalando
Vida é Luz do Sol nos alimentando, é perfume da flôr nos elevando
Vida é silêncio e calma do anoitecer, é ...
Obrigada meu Deus por tanto Amor!
Sórdido é Teu pensamento desqualificado, é Tua palavra esquecida, é Tua acção vilipendiada
Sórdido é o homem que Te sufoca no seu coração
A Vida não é sórdida, pois não?

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Chapada dos Veadeiros 2


Lua de São Jorge.

O frio...
Um detalhe na solidão que busco
Um paradoxo pra ser feliz
Lua ...
Um C que cresce
Se pondo num céu amplo
A terra, as escarpas
Bilhões de anos
Onde a luz se fez...
Horizontes, magmas, fogo,
Água despencando das pedras
Como eu ,resgatando
O ritmo...A vida tresloucada do poeta
Que teima
A trilha que trilha
Mostra no fundo
Que a outra d’arte é mais linda
Onde aerolions fazem-me mais perto do céu
Da parte, do tudo
Céu, estrela
Quase átomos e sua pele
Refletida nas gotas
Amálgamadas dos poços
E posso te mirar
E dizer, “teórizar”
Onde a realidade se virtualiza
Entendo...
Não há segredos
Somos sós, sóis
De um universo paradoxalmente infinito
E também só.

Chapada dos Veadeiros 1





Lua de São Jorge.
Quem sabe, talvez, ouvindo os versos da canção, poderia se entender o que se passa na Chapada dos Veadeiros.Uma confusão de paisagens, trilhas, cachoeiras, comidas, frutas exóticas, arvores retorcidas, cristais e pedras magmáticas, gentis.
Uma viagem acalentada há uns dois anos quando fui ao Jalapão. Como sempre digo: ir é uma questão de atitude. Era só eu, em busca dos prazeres do lugar, já previamente estudado.
Uma estrada boa,onde ciclistas comiam asfalto. Cheguei em Alto Paraíso de Goiás e fui direto para trilha da Cachoeira do Portal. Árvores, mata de cerrado, pequenos riachos aliviando a secura de setembro. Um banho pra lá de refrescante, formigando o corpo na água fria do rio São Bento. Latejava um desejo pela comida local.
Em direção a São Jorge, em frente ao Morro da Baleia, parei no rancho do Waldomiro, coisa pra lá de simples, mas como dizia um amigo : riquíssima. Apeei e provei uns tragos da cachaça do lugar, acho que até “bebi na pia” como tem no cartaz. O prato pedido era carne de lata com matula. O Goiás foi invadido por tropeiros e estes para conservar a carne, cozinhavam o porco em sua própria banha e armazenavam em lata , daí o nome desse “confit du porc”. A matula é uma mistura de feijão branco com carnes e requeijao servido em folha de bananeira, de sabor excepcional. Já fui feliz ali, com aquela deliciosa refeição embalada pelas estórias lendárias de seu Waldomiro, figura de uma amplidão do tamanho da paisagem.
Do rancho, voltamos a estrada , pegamos uns kilometros de piçarra, antes passando pelo Jardim de Maytrea, cartão postal_ Onde os buritizeiros repousam na moldura do horizonte, dos chapadões ao longe.
São Jorge, um povoado onde se tem a certeza que se está no interior do Brasil, recheado de pessoas de bom coração. Já era noite quando acordei de um breve descanso. Fui em busca de algo pra fazer; encontrei uma pizzaria , hesitei entrar, ainda ematulado (neologismo que criei e quer dizer pleno de matula) ; um garçom simpático me ofereceu uma caipirinha de abacaxi com gengibre. Tinha um cara conversador que parecia ainda está nos anos 60; conversamos sobre política, viagens , musica e pessoas. De súbito , a conversa teve que terminar e descobri que o cara era o cantor, e dos bons. Levou bacana, um passeio musical pelo rock e blues no violão, tocando Beatles, The Doors, Celso Blues Boys, Cássia Eller e Legiao; A coisa ficou mais empolgante quando chegou seu parceiro, que arrebentava na guitarra. As caipirinhas, a lua crescente e aquele ambiente despertaram a poesia que fluiu nos guardanapos de papel, ofertados por uma garçonete que parecia a Sandra Bullock. Fiquei de voltar.
No outro dia fui ao Parque da Chapada, uma longa caminhada , por picada de terra entre o cerrado. Em alguns trechos, descortinava um vão imenso e as muralhas ao fundo. Seixos de cristais por vezes permeavam o caminho. Acho que vi uns duendes, pelo menos os cogumelos brotavam de algumas arvores em sombra. Deni ia contando as estórias do lugar. Imaginava como fora o deslumbramento dos que primeiro ali chegaram, após dias de caminhada exaustiva. O refrigério daquelas veredas, daquelas lagoas ao sopé das cachoeiras, desperta o índio da nossa ancestralidade. Massagens naturais das cascatas, mergulhos.Mais um dia feliz.No meio da trilha um papo sobre a vida, sobre as coisas sórdidas da imprensa; a constatação que a vida é sórdida, uma lembrança que teimo em não crer.Mas isso é pra próxima postagem.