Viagens e Trilhas de um Poeta

Viagens e Trilhas de um Poeta

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Os Doze Anos da Carol




Aos doze anos, eu descobri a vida, fiz meus primeiros versos, vislumbrei uma profissão, construi as melhores amizades, sonhei uma família, na qual criei meus melhores tesouros_ minhas filhas.
Hoje, aquela pequena princesa que nasceu e cabia numa caixa de sapatos tem a idade onde começa a lembrança. O que tenho pra lhe dar: as rosas cor-de-rosa e toda o meu amor que transborda no meu abraço, nos meus ósculos.


A PRINCESA DA CAIXA DE SAPATO
Era uma vez num reino distante uma princesa que vivia entre flores e pequenos animais.
Um dia a princesa ficou gestante e as luz de um anjo avisara que ela daria a luz a uma menina.
O reino todo saudava o nascimento de uma nova princesa, e a primavera chegou com muito mais flores e suas essências enchiam os cantos e cercanias do lugar.
Eis que uma bruxa malvada ,ao ver tanta felicidade , jogou uma praga sobre a princesa por nascer, e que o quebranto faria ela nascer tão pequena, que caberia numa caixa de sapato.
Pra tal feitiço nada poderia ser feito e então restou a todos esperar
A princesa-mãe , jeitosa e na sua simplicidade, pegou uma caixa de sapato e forrou com algodão e seda, e fez um pequeno leito para a pequenininha que chegaria ao romper de um novo ano.
Mas um mago , de grande fama , soube da estória, através de um pássaro e procurou ajudar...Reuniu todos os seus poderes, para reverter o feitiço da bruxa: Conseguiu que a princesa nasceria pequena, mas que cresceria com o tempo, desde que amor lhe fosse dado.
Chegara o dia do nascimento, o reino se encontrava um pouco triste, mas cheio de comemorações, pois também um outro século se iniciara, e as luzes coloridas dos fogos de artifícios desenhavam figuras lindas no céu estrelado do reino.
A pequena princesa realmente nascera pequena, coube no seu berço da caixa de sapato, e a bruxa pôs-se a sorrir, achando que sua praga fosse eterna.
Os dias passaram... meses passaram... e a princesa da caixa de sapato ia recebendo todo o amor que uma criança podia receber.
Vieram os bichos da floresta: coelhos, leões, elefantes; rios desviaram seu curso para alcançar os pés da princesinha; as flores fizeram aromas n`antes sentidos, os pássaros embalavam em doces cantos o seu sono. A princesa e o príncipe foram pai e mãe...Assim a caixa de sapato foi ficando cada dia mais pequena para caber a princesa mais linda que um reino já teve.
Passaram séculos...e a história conta a senda de uma pequena menina que cabia numa caixa de sapato, que cresceu e devolveu ao mundo todo o amor que recebeu. A grande mudança do universo aconteceu naqueles dias de desespero.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Paraty ou Procê





Sonhos, desejos, parecem que só valem quando a busca por eles se tornam reais. As crianças de férias e eu empilhado de trabalho, me desdobrando, corrompendo tempo, reformando casa, correndo...correndo...para ter uns dias de folga...Uns dias pra ser feliz.
Quarenta e oito horas no ar , acordado, um horário cruel de vôo.
No Leblon , uma parada providencial para levar só o necessário.
Tanque cheio, lanternas ligadas, GPS procurando a rota previamente demarcada. Co-piloto ruinzinho, saimos da rota varias vezes. Até que nos achamos e fomos passando carros, ônibus, caminhões. Uns sustos inevitáveis de estrada. Alguns que a pressa e a imprudência abortaram o caminho. O almoço não teve , mas paramos pro tradicional abastecimento de água e lanches. Achamos uma queijaria legal, com vários petiscos. Continuamos subindo e descendo serras. O rádio começava a perder a sintonia. Inevitável era...Diminuí o som e a plenos pulmões : “ Se você pretende saber quem eu sou, eu posso lhe dizer, entre no meu carro e na estrada de Santos você vai me conhecer...” Cumpria-se ali algo que já havia escrito antes no livro que estou fazendo sobre viagens. Cumpre-se também nesses versos o que penso que sou, do que gosto: andar por aí e ver onde vai dar...vai dar no mar...ou em alguma paisagem com arvores, céu, montanhas, luas...com o peito cheio de amor , experimentando liberdades, buscando paz, curtindo o riso e as brincadeiras com minhas filhas, donas de todas as coisas boas que faço
Paira uma dúvida nas pedras de calçamento irregulares, uns trôpegos, com e sem cachaça, fazendo vida entre casas de janelas e portas coloridas: é Para ti ou Proçê?
Depois continua....

domingo, 20 de novembro de 2011

Os Campos de Viana






Campos de Viana.
Os campos de Viana, os Campos são de Viana. È a Terra do meu pai. Era a segunda vez que iria lá, apesar de a primeira ter poucas lembranças.
Fomos batizar a Savana do César (Dr. César,aquele que estava de plantão quando estava na Chapada), que até então nunca tinha sentido cheiro de lama.
A viagem foi tranqüila e durante toda ela nos divertíamos com as conversas entre os rádios portáteis que levamos. Passamos num clube de reggae de beira de estrada e mandamos um alô pro catirobal. Kkkkkkk
Chegamos no fim da tarde e fomos logo jantar na casa do tio do Cesar, Tambaqui de todo jeito: frito, assado e uma caldeirada que curava qualquer ressaca vindoura.
Meu irmão Winston chegou com a namorda e fomos jogar sinuca num bar do areial.Cerveja e carne de sol de búfalo. A noite foi tranqüila.
No outro dia acordamos cedo e Fomos pra trilha.Enfrentamos o primeiro desafio de lama e o Cesar se saiu bem. Fizemos gol com as savanas num campo de futebol no meio da trilha.
Voltamos pro sítio de outro tio do Cesar e fizemos um churrasco daqueles.
Dormimos cedo, No outro dia já era o dia do retorno à tarde, mas inesperadamente fizemos outra trilha por dentro do campo, até junto às praia de rio. Trilha excelente; a viatura, de verde ficou cinza. Marcamos os locais no GPS.
O próximo encontro, em julho, já está marcado. Agora o campo estará alagado, após a temporada de chuvas.Faremos a comparação. Mas a diversão será a mesma.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

A Imortalidade dos Ídolos_Renato Russo Vive!


“Os bons morrem cedo”. As músicas do disco acústico da Legião Urbana revelam nas canções a história : o descobrimento do Brasil e o genocídio indígena;a cultura européia de exploração;o vício e a rebeldia dos anos 60; a ditadura e seus assassinatos; a década perdida,os anos 90; a mídia televisiva insidiosa e manipuladora.
Renato faz falta, a um país de tão poucos com reserva moral pra dizer algo.
Parece que caminhamos pro pior, mesmo que com aparência de que estamos mais ricos.
Hoje amanheceu cinzento ; sopra uma brisa de mar,um vento no litoral e em algum lugar a lua cheia ainda brilha.
Há tempos perdemos nossos ídolos precocemente; suas vidas tão intensas os expõem a riscos.
Mas eles são eternos, o legado de suas obras ainda vivem, bem presentes.
E porque esta homenagem está aqui? As músicas são uma grande viagem e as viagens são feitas com música. Viva Renato Russo e sua imortalidade!

sábado, 24 de setembro de 2011

Os filhos são viagem

A viagem não é de avião, nem de carro,nem a cavalo,nem de carro-de-boi; Não é de trem , nem a pé.Os filhos são uma grande viagem , em direção a nossa eternidade, em direção a felicidade, ao enorme sentimento de proteção, em direção a nossa infância esquecida, às profundezas dos sentimentos dos nossos pais, ao imenso e verdadeiro amor. Minhas filhas são dois tesouros, cada uma de um jeito diferente. Traduzi-las? Talvez a poesia diga um pouco:

Poema de Eterno Riso (Brincadeira de Maria Luiza)
Malu Que já nasceu palhacinha _ Um tanto de alegria incontida Chocolate lambuzado na boca. Teimosa, nasceu nas águas de março Fugindo do trigo de abril Um peixe, peixinho, golfinhos Caiu sem querer na piscina. A dona das brincadeiras Quebrou a cadeira, também do cavalo caiu Fugiu pra Sibéria Um caranguejo prendeu Menina sem fome Sem medo de nada Um pesadelo de noite Comeu macarrão, uma eca: salada! Malu, menina peralta Gargalhada engraçada Um choro doído Foi Thor que mordeu. Mas faz um bicho nas nuvens Rodopia na grama, Um balé no espelho: Vaidade infantil Tropeçando nas letras Faz um rio de palavras Um castelo e um príncipe O laboratório de Dexter Maria Luiza Inspiração da mulher Um poema sem rimas Um sapato furado... E um poeta feliz.

Chapada dos Veadeiros Principal


Chapada dos Veadeiros 3.
No meu terceiro dia na Chapada, formou-se um grupo. O Parque estava fechado, então fomos ao Vale da Lua e Cachoeira Raizama. O que poderia dizer a mais? Os caminhos da chapada são longos, sobe-se por terrenos às vezes pedregosos, o joelho às vezes até dói (a solução é um óleo de arnica e copaíba). A conversa e o silêncio vão se alternando , e dessa interação vamos nos reconstruindo, reinventando valores, fortificando nossos princípios mais arraigados, relativizando algumas coisa,perdoando nossos doces pecados, suando bastante, enchendo nossos corpos de água.Todo o misticismo do lugar, se entende ao pisunhar cristais, ao visualizar a amplidão dos chapadões,ao descanso merecido numa sombra de arbusto, ao se deliciar com a rara curriola(fruto exótico do cerrado),ao refrescar-se nas águas correntes , ao despertar das nossas consciências para a existência do outro, para a maravilhosa experiência de tentar ser agradável ao outro, de trocar um pouco das nossas vidas, pois a vida que vivemos é tão curta para esse universo imenso. A chapada é um resumo, é a ilusão para alguns, é talvez apenas um momento como tantos outros, uma página lida e esquecida no meio de tantos livros na estante, mas para mim vos digo: é inesquecível, é desejo de voltar, é vontade de encontrar meus amigos (rios que são)que se fizeram , é decisivamente a certeza que a vida não é sórdida!
E peço permissão (pois já me permiti) para publicar o poema da Elsa para enriquecer a postagem:


O que é a vida para mim?
Vida é seiva de árvore, é cantar de passarinho
Vida é calor da Chapada, é água da cachoeira nos refrescando e embalando
Vida é Luz do Sol nos alimentando, é perfume da flôr nos elevando
Vida é silêncio e calma do anoitecer, é ...
Obrigada meu Deus por tanto Amor!
Sórdido é Teu pensamento desqualificado, é Tua palavra esquecida, é Tua acção vilipendiada
Sórdido é o homem que Te sufoca no seu coração
A Vida não é sórdida, pois não?

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Chapada dos Veadeiros 2


Lua de São Jorge.

O frio...
Um detalhe na solidão que busco
Um paradoxo pra ser feliz
Lua ...
Um C que cresce
Se pondo num céu amplo
A terra, as escarpas
Bilhões de anos
Onde a luz se fez...
Horizontes, magmas, fogo,
Água despencando das pedras
Como eu ,resgatando
O ritmo...A vida tresloucada do poeta
Que teima
A trilha que trilha
Mostra no fundo
Que a outra d’arte é mais linda
Onde aerolions fazem-me mais perto do céu
Da parte, do tudo
Céu, estrela
Quase átomos e sua pele
Refletida nas gotas
Amálgamadas dos poços
E posso te mirar
E dizer, “teórizar”
Onde a realidade se virtualiza
Entendo...
Não há segredos
Somos sós, sóis
De um universo paradoxalmente infinito
E também só.

Chapada dos Veadeiros 1





Lua de São Jorge.
Quem sabe, talvez, ouvindo os versos da canção, poderia se entender o que se passa na Chapada dos Veadeiros.Uma confusão de paisagens, trilhas, cachoeiras, comidas, frutas exóticas, arvores retorcidas, cristais e pedras magmáticas, gentis.
Uma viagem acalentada há uns dois anos quando fui ao Jalapão. Como sempre digo: ir é uma questão de atitude. Era só eu, em busca dos prazeres do lugar, já previamente estudado.
Uma estrada boa,onde ciclistas comiam asfalto. Cheguei em Alto Paraíso de Goiás e fui direto para trilha da Cachoeira do Portal. Árvores, mata de cerrado, pequenos riachos aliviando a secura de setembro. Um banho pra lá de refrescante, formigando o corpo na água fria do rio São Bento. Latejava um desejo pela comida local.
Em direção a São Jorge, em frente ao Morro da Baleia, parei no rancho do Waldomiro, coisa pra lá de simples, mas como dizia um amigo : riquíssima. Apeei e provei uns tragos da cachaça do lugar, acho que até “bebi na pia” como tem no cartaz. O prato pedido era carne de lata com matula. O Goiás foi invadido por tropeiros e estes para conservar a carne, cozinhavam o porco em sua própria banha e armazenavam em lata , daí o nome desse “confit du porc”. A matula é uma mistura de feijão branco com carnes e requeijao servido em folha de bananeira, de sabor excepcional. Já fui feliz ali, com aquela deliciosa refeição embalada pelas estórias lendárias de seu Waldomiro, figura de uma amplidão do tamanho da paisagem.
Do rancho, voltamos a estrada , pegamos uns kilometros de piçarra, antes passando pelo Jardim de Maytrea, cartão postal_ Onde os buritizeiros repousam na moldura do horizonte, dos chapadões ao longe.
São Jorge, um povoado onde se tem a certeza que se está no interior do Brasil, recheado de pessoas de bom coração. Já era noite quando acordei de um breve descanso. Fui em busca de algo pra fazer; encontrei uma pizzaria , hesitei entrar, ainda ematulado (neologismo que criei e quer dizer pleno de matula) ; um garçom simpático me ofereceu uma caipirinha de abacaxi com gengibre. Tinha um cara conversador que parecia ainda está nos anos 60; conversamos sobre política, viagens , musica e pessoas. De súbito , a conversa teve que terminar e descobri que o cara era o cantor, e dos bons. Levou bacana, um passeio musical pelo rock e blues no violão, tocando Beatles, The Doors, Celso Blues Boys, Cássia Eller e Legiao; A coisa ficou mais empolgante quando chegou seu parceiro, que arrebentava na guitarra. As caipirinhas, a lua crescente e aquele ambiente despertaram a poesia que fluiu nos guardanapos de papel, ofertados por uma garçonete que parecia a Sandra Bullock. Fiquei de voltar.
No outro dia fui ao Parque da Chapada, uma longa caminhada , por picada de terra entre o cerrado. Em alguns trechos, descortinava um vão imenso e as muralhas ao fundo. Seixos de cristais por vezes permeavam o caminho. Acho que vi uns duendes, pelo menos os cogumelos brotavam de algumas arvores em sombra. Deni ia contando as estórias do lugar. Imaginava como fora o deslumbramento dos que primeiro ali chegaram, após dias de caminhada exaustiva. O refrigério daquelas veredas, daquelas lagoas ao sopé das cachoeiras, desperta o índio da nossa ancestralidade. Massagens naturais das cascatas, mergulhos.Mais um dia feliz.No meio da trilha um papo sobre a vida, sobre as coisas sórdidas da imprensa; a constatação que a vida é sórdida, uma lembrança que teimo em não crer.Mas isso é pra próxima postagem.